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por Sherif Awad
-Sou de ascendência Italiana pela linha materna, seus antecedentes, naturais de Veneza, vieram nas imigrações para trabalhar nas plantações de café, se estabelecendo na região de Jundiaí e Cabreúva. E de origem Cigana pela linha paterna, vindos da Ucrânia e Portugal. O pai do meu pai, filho de ciganos foi adotado pela família Carvalho de origem portuguesa. Descobri nisso a associação deste nome com a acepção Druida e a civilização celta, que já vinha estudando.
Fortes reflexos dessa ancestralidade se evidenciam nos movimentos contemporâneos.
Acredito que a ligação com a arte e a filosofia está presente desde sempre. Em alguns momentos há uma convergência de fatores que propulsionam essa interação. Quando estava com 11 anos entrei num grupo de sapateado onde fazíamos apresentações em eventos e festivais da região, o contato maior com essa atmosfera trouxe uma sensação de reconhecimento. Mais tarde fui procurar dança contemporânea, Butô e ‘quase sem querer’, entrei no Teatro, que foi outra alavanca, o clima de espetáculo, e a força coletiva de diferentes grupos se encontrando na coxia, essa cumplicidade e fraternidade aumentou esse estado de reconhecimento e a vontade e compartilhar.
-Lembro de ir no circo com meu irmão, lembrança bem antiga, e ele contava estórias e histórias, da Alice indo atrás de um coelho, de um homem abrindo o mar no meio. Outra memória é de tentar acompanhar a música de abertura do Rei do Gado, e observar o que aquele ritmo estava acionando. A Interpretação da Camila Morgado em Olga gerou alguns insights também.
A MPB foi uma das principais referências, tem muita teatralidade na música brasileira, especialmente nordestina, de raiz, que preserva e enaltece os timbres e sotaques da cultura. Cantigas regionais. Algumas grandes referências nacionais; Milton Nascimento, Chico Buarque, Ney Matogrosso…
Na infância ouvia rpm, Cazuza; também grupos de música tribal nórdica, épica, árabe.
Na dança; Nacho Duato ; São Paulo cia de Dança; Pina Bausch ;River Dance- sapateado irlandês; coreografias do Ricardo Scheir, entre outros.
Em dramaturgia teatral : Luis Alberto de Abreu.
Alguns clássicos como O Corcunda de Notre Dame; O Físico, alimentam a construção.
-Um dos grandes benefícios é a compreensão da ideia de identidade coletiva, perceber a composição de organismos sociais e como isso funciona, o que nós estamos comunicando(?), o que realmente estamos fazendo(?). Perceber o ‘nós’ e que enquanto humanidade estamos no mesmo barco. Perceber o outro, e se perceber já pode ser uma experiência extraordinária.
Pode ser uma plataforma de comunicação, transformação social, palanque, tablado, arauto, caminho. Pode ser entrar numa floresta e encontrar uma fonte cristalina.
-É importante eu estar de acordo comigo e com o que estou fazendo, essa clareza é fundamental. Quando isso ta alinhado acho que não tem muita diferença. Nas artes cênicas ter destaque obviamente abre mais oportunidades de trabalho, mas o que é realmente satisfatório é a experiência de interpretação e o que acontece no processo.
-Nunca passei por preconceito nessa profissão por ser mulher. Pelo contrário, o teatro por exemplo transpõe qualquer tipo de categorização, o ator transita em diferentes gêneros, idades, raças, classes sociais… atuando como precursor de novas realidades e paradigmas.
-É uma questão longa e dá pra responder de varias formas. Existem vários panoramas simultâneos que se interpõe. Somos o país com a maior miscigenação étnica-cultural o que propicia uma riquíssima diversidade na produção artística. Existe muita força Outro lado existe também concentração de investimento, burocracia, priorização de conteúdos. Tem muito artista de circo fazendo malabares no sinal.
A profissão artista no Brasil parece que ainda é vista como algo supérfluo, e dependendo do lugar onde ela se encontra, em qual moldura se esta, pode ser vista como algo muito sofisticado ou marginal. Certa vez, estávamos numa manifestação na rua e comecei a reparar nas pessoas pra tentar entender o que elas estavam achando, tinha um pessoal do jornal também entrevistando e uma das impressões captadas é que era um bando de baderneiros. E qualquer movimento gera diferentes leituras, mas o interessante é saber que a forma como a população se vÊ e se relaciona é como se constrói o patrimônio cultural de uma nação.
-Nesse momento projetos de artes plásticas, instalação e fotografia, baseados em estudo do campo mórfico. Futuramente pretendo compreender melhor a intervenção da Constelação SistÊmica no teatro.