por Sherif Awad
-Desde pequena sempre fui muito ligada à arte. Desde ouvir meu pai tocando violão até brincar de “teatrinho” com minha irmã e minha prima, e escutar música fazendo cena. Nas festas de família o samba, o forró e a MPB sempre foram presentes, com momentos de roda com todos cantando e dançando. E também não posso-me esquecer de aprender a sambar e dançar Axé com minha prima mais velha.
Aos 9 anos, a professora nos pediu para fazermos uma cena com algum personagem do folclore brasileiro, e escolhi fazer a Caipora. Ao final da cena, professora e alunos estavam espantados com minha capacidade de interpretação e logo disseram que poderia já estar na Globo. Pra quê? Levei à sério, para desespero dos meus pais.
Com 13 entrei em uma escola de teatro, mas tive que abandonar aos 17 para prestar vestibular, e tornar o teatro como “plano B. Como opção, fiz a faculdade de Rádio e TV, mas o destino quis outra coisa. Em 2015 abandonei tudo para trabalhar exclusivamente na área.
-Sempre gostei muito de cinema, tenho na minha memória com carinho “A Noviça Rebelde” e “O Mágico de Oz”. Aos 6 anos quis ser uma Chiquititas, mas apenas no mundo dos sonhos, e na adolescência sonhava em fazer uma novela. Não tinha, nessa idade, grandes referências, tinha uma ideia na cabeça.
-É algo que não acaba nunca. Estudar se torna parte da vida de qualquer ser-humano quando este percebe que o mundo muda de forma muito rápida, e os saberes não bastam. Eu estudo a cultura popular brasileira e a cultura do brincar. E foi onde aprendi a ser artista.
-Na cultura popular todos são responsáveis por colocar o brinquedo na rua: dançar o maracatu, o frevo, o samba, o cavalo-marinho… foi estudando e admirando a cultura popular e a cultura do brincar que pude ver arte em todos os lugares, e pude perceber o quanto se torna presente o adulto que vive com arte. Ser artista é apenas ser o caminho para que esse encontro de pessoa para pessoa se torne real. E aprendemos a ser artistas quando aprendemos a ser gente.
-Sempre fui pessoa de sonhar grande. Tenho a sensação de que nunca estarei satisfeita. Acredito e amo tanto o que faço que desejo que isso se torne um conhecimento mundial. Acredito que o Brasil tenha muito a ensinar, e que, principalmente nós brasileiros temos muito que aprender a ser brasileiros, e apoio minha arte nessa causa.
-Existem desafios relacionados a gênero como mulher versus profissão que você enfrenta agora?
Existe o medo do tempo. Quero ser mãe e sei que isso demandará meu corpo e meu tempo, o que já me causou muita angústia por ainda não estar onde pensei que estaria. Tenho medo que o tempo me atrapalhe.
-De acordo com você, descreva a situação atual das artes / entretenimento / indústria em seu país?
Existe um movimento muito interessante das atrizes negras, assim como em todo o mundo. A indústria tem percebido esse movimento de representatividade, mas há muito a ser feito ainda.
Também existe o movimento do feminismo, em não colocar a mulher apenas em condição de servir, em todos os sentidos, mas esse tema é muito dissecado e fica muitas vezes superficial.
Com a netflix mostrando caras novas e “reais”, dá uma certa esperança em poder fazer parte, o que me entristece é que todos querem falar do Brasil no viés do crime, e temos muito mais assuntos a serem abordados.
Desde 2013 há uma demonização do artista por movimentos de extrema-direita, que têm como objetivo destruir a produção cultural brasileira, e no governo de Jair Bolsonaro isso tem acontecido, demitindo funcionários que “fizeram nascer” a Lei Rouanet, e fazendo uma verdadeira “caça às bruxas”, colocando o artista como vagabundo e responsável por uma parte da corrupção no país. É muito difícil chegar trabalho até mim. Normalmente eu os crio.
-Sou arte-educadora e contadora de histórias, e tenho desde o início da quarentena, contado histórias pelo meu instagram e youtube. Isso tem dado muito certo, consegui chamar atenção de muitas educadoras e crianças. Também estou estudando, junto de meu marido, que também é ator, a possibilidade de apresentações online de nosso novo espetáculo, escrito por mim “Brinquedo – Das Formas de Liberdade”. Em junho e julho fizemos 02 apresentações pela prefeitura da Cidade de São Paulo, para o programa Cultura Presente, que promove espetáculos online para este período de isolamento social.
O futuro é abrir um espaço aqui em São Paulo, onde poderemos dar atenção aos nossos estudos, que são ligados à cultura popular brasileira e à América Latina. Queremos ter um local de reflexão sobre o que é ser brasileiro e latino-americano, onde falaremos sobre arte, educação e psicologia.