por Sherif Awad
Eu tive uma infância muito pobre e o acesso que eu tinha as artes era muito limitado. Algo que minha mãe fazia questão de fazer era nos levar ao cinema para assistir os desenhos da época. Eu adorava. Minha mãe criava a mim e minha irmã sozinha e quando eu tinha por volta de uns seis, sete anos ela conheceu uma senhora, Dona Josefa que me acolhia em sua casa para ela trabalhar. Ela já era uma mulher idosa, mas forte e com opiniões formadas em relação a educação. Ela me levou na biblioteca e me abriu um mundo novo, fazendo uma ficha para eu poder pegar e ler os livros que eu desejasse.
Não tive modelos bem definidos na arte, como ainda mesmo adulta, não ache que os tenha. Quando adolescente eu sonhava ser bailarina e Ana Botafogo era uma referência nessa área, música sempre era muito popular, mas eu amava um programa que se chamava: Concertos para a Juventude. Me tocava muito. E amava ler Drummond, meu poeta favorito.
Ser uma profissional da voz veio meio que por necessidade, comigo já adulta, separada e com dois filhos para criar. Como todo mundo dizia que eu tinha uma voz muito bonita eu me inscrevi para um curso de locução há quase 23 anos atrás. Eu não imagina viver da voz. Me identifiquei logo de princípio e comecei a trabalhar em rádio muito rápido. Fiz um longo caminho do rádio, para a Tv como apresentadora, depois montei meu home estúdio e passei a fazer locução publicitária e há cinco anos troquei o interior de Minas Gerais pela grande São Paulo. Eu sonhava em dublar.
Meu caminho sempre foi pautado nos estudos e especializações referentes a voz. Nunca parei de estudar e acredito que nunca vou parar. O mercado se atualiza constantemente, tenho que estar atenta.
Estou em um momento muito bom na carreira, tenho uma carteira de clientes satisfatória e hoje já dublo uma gama boa de produções. Mas sei que posso ir além e sempre buscar um lugar melhor para mostrar meu talento.
E não é fácil, porque em alguns pontos nós mulheres temos nossa capacidade aliada e julgada pela nossa juventude e beleza. Então envelhecer, sendo artista e mulher é um desafio.
Outro ponto complexo é o momento político que nosso país atravessa. Arte, cultura não é nada priorizado, assim como a educação.
Eu sempre valorizo meus projetos com o melhor olhar que tenho. Busco interpretar da melhor forma, me coloco no lugar do ouvinte para que fique muito agradável.
Para o meu futuro profissional esperai produzir mais e melhor. Espero poder expandir meu lugar de voz e trabalhar com projetos diferentes como animação e desenho. Não quero me acomodar em um universo tão vasto como o da voz.