por Sherif Awad
Olá do Brasil,
Obrigado www.MeetingVenus.com.com pela entrevista!
A minha relação com a arte acho que começou dentro da minha cabecinha, quando eu era criança e ficava cantando em frente ao espelho para “acordar o outro lado”, eu acreditava que existia um mundo do lado de lá do espelho, um mundo mais colorido e alegre.
Eu adorava escutar música e visualizar as histórias cantadas na minha cabeça, como se fossem filmes, Chico Buarque era meu predileto, a riqueza de detalhes descritos nas letras e melodias eram “Cinema” pra mim, que naquela época eu nem sabia que existia cinema ou teatro, minha família nunca foi muito ligada a arte.
Comecei a fazer balé com 4 anos, como a maioria das menininhas daquela época. Me lembro como se fosse ontem a minha primeira aparição em público – a apresentação de final de ano – eu tinha 4 anos, lembro do público e da minha sensação confortável em estar ali compartilhando minha alegria. Fiz balé por muito tempo, às vezes paravam por um período…, mas logo estava eu lá de volta com meu collants cor de rosa. O Balé me trouxe uma noção de grupo, de responsabilidade com o coletivo e com a entrega.
No inicio da adolescência (13/14 anos) eu pendurei as sapatilhas e fui “curtir a adolescência”, me perdi da arte e de mim mesma na tentativa de me encontrar enquanto ser humano semi-adulto neste mundo doido.
Até que um dia … Shakespeare me pegou de jeito:
Esta história começou no verão de 1994, era uma jovem “bailarina aposentada”, recém-chegada em SP, sua única preocupação era saber onde estudará, cursar o tal colegial.
E foi assim, despretensiosamente que William Shakespeare apareceu. Este nome estava escrito na fachada de um colégio técnico em Artes Cênicas à poucas quadras da minha nova casa, não resisti, e a escola me achou antes mesmo que eu pudesse pensar em procura-la.
No inverno do mesmo ano, fui chamada para fazer um teste de elenco para uma peça teatral, (eu que nem era atriz e nem sabia que seria, ou que queria ser, e que nunca nem se quer tinha ido a um teatro antes), três meses depois a cortina se abriu, e quando ela se fechou eu pensei:
– É isso que eu quero fazer! Quero ser atriz.
– Quero salvar o mundo!! (Na época eu não entendia de onde vinha esta ligação, como eu poderia salvar o mundo sendo atriz? Mas era isso que aquela jovem de 16 anos sentia, era isso que pulsava em seu coração).
E assim foram os anos seguintes, as cortinas se abrindo e fechando, cada hora em um lugar, a cada tempo um personagem: umas mais bonitinhas, outras menos ordinárias.
Descobri que tinha medo de altura no mesmo momento que resolvi me livrar dele, já que eu estava em cima de um trapézio na aula de circo, cuspi fogo para expressar minha liberdade, e a este show eles davam o nome de Pirofagia.
Adorava as aulas de história da arte, meu mundo se abriu ali, com tantos gênios e suas histórias. Vi que as pessoas/personagens sentiam as mesmas coisas que eu, desde os tempos do teatro grego; Aristófanes, Ésquilo … até Plinio Marco e Nelson Rodrigues. E que tudo poderia ser uma grande comédia se não fosse o drama com o qual encarávamos as coisas. Acho que foi aí que comecei a entender aquela intuição de que a arte poderia salvar as pessoas.
Entre uma aula e outra, já na faculdade de Psicologia, mais especificamente no bar da faculdade, com um amigo musico e uma amiga publicitaria, nasceu uma Produtora Cultural, nosso primeiro cliente foi a Festa de lançamento da Campanha Sou da Paz.
Musica, Circo, Teatro e a nossa Paixão pela Arte eram os ingredientes desta parceria.
E esta Produtora que despertou em mim, não parou mais, além do teatro e da musica, também atuei como produtora de moda em desfiles, catálogos e studios fotográficos, além de figurinista para cinema e teatro, assim como eventos e exposições de arte.
Sempre achei importante conhecer todos os lados e possibilidades de entrega que a arte pode proporcionar, e o meu trabalho como produtora me proporcionaram esta contextualização que muitos atores não têm, por ficarem só na atuação.
Na tentativa de descansar, fugir de tudo e de mim mesma, fui estudar inglês em Boston onde passei um ano e meio, a dificuldade inicial com o idioma e a comunicação, me fez entrar em contato comigo mesma, Eu que estava esquecida à (tempos) perdida na rotina, aquela que um dia pensou em salvar o mundo precisava salvar à si mesmo primeiro, se reconectar.
Me coloquei do avesso diante ao espelho da minha mente.
As perguntas que me rondavam na infância, em frente ao espelho, estavam de volta:
– Quem sou eu? De onde vim? Porque estou aqui?
Tempos depois de volta à São Paulo, resolvi voltar aos palcos, também na tentativa de me reencontrar; além do teatro, andava por aí com um microfone a tira colo; como repórter cultural, cobrindo exposições, estreias, shows e eventos.
Mas eu sentia que havia algo mais a ser estudado e trabalhado além dos mestres do teatro. Eu precisava ser um canal de comunicação com o publico e pra isso esse canal precisava estar limpo, aberto para não interferir no fluxo.
Mestres Orientais… Meditação …, Catarse, … função do teatro, … observar as sensações… arquétipos … condicionamentos … não julgamento … aceitação …. flexibilidade … Um mergulho na mentalidade humana, para poder sair dela e estar disponível aos personagens e histórias que precisam ser contadas, para que o publico se veja ali e possa abrir-se para a possibilidade de libertar-se também, das jaulas de seus arquétipos.
É isso que faz um Artista: Liberta-se para libertar seu publico.
Este é meu treino e combustível diário.
Entendo que sucesso é conseguir tocar e transformar alguém com a minha arte, não acho que isso está ligado ao numero de pessoas alcançadas e nem o valor do cache pago por isso. É logico que quanto mais gente a minha arte puder alcançar maior a possibilidade de eu ter sucesso em alcançar os seus corações.
O audiovisual brasileiro vive o seu melhor momento, com reconhecimento dentro e fora do país, mesmo diante a crise e boicotes do novo governo, o setor movimenta mais de R$ 25 bilhões, gera muitos empregos diretos e indiretos. Estamos vivendo um momento de grande expansão, e o mercado vai muito além do cinema e da televisão, o streaming cresce cada vez mais, são muitas plataformas e possibilidades, ainda mais agora com o advento desta pandemia que estamos vivendo o consumo por conteúdo artístico cresceu muito. Mas por outro lado temos o teatro ainda pouco valorizado no Brasil, e que com a situação atual está tendo que se reinventar pra sobreviver, e muitos espaços culturais estão fechando. Só espero que possamos voltar aos palcos e que as pessoas não se esqueçam da magica que ocorre dentro de um teatro, da troca entre a plateia e os atores. Eu particularmente tenho sentido muito falta dos palcos, as vezes sonho com o barulhinho do publico no escuro da plateia.
Quando uma oferta de trabalho chega até mim, geralmente já filtrada pela minha agencia, eu olho e vejo o quanto eu posso ser útil para aquele projeto, se tenho algo a oferecer para agregar, eu diferente da maioria dos meu colegas, adoro fazer testes ainda mais agora que são em casa, eu preparo meu cenário (caso o teste precise) com a dedicação de um diretor de fotografia, adoro o que eu faço. E quando “não rola” não sou aprovada para o papel eu não acho que aquilo tenha algo a ver com a minha capacidade enquanto atriz, o fato é que não sou o perfil que o diretor ou o cliente precisam para aquele determinado Job.
Muitos atores sofrem com testes, e com o “não rolou” porque se esquecem que faz parte do nosso trabalho ajudar os diretores/ criadores a entender o projeto quando somos chamados para um teste. Na maioria das vezes eles ainda não sabem o que procuram, estão testando o todo não somente os atores.
Sobre meus projetos futuros … Olha… esta pandemia tem me feito rever o amanha a cada dia, e aceitar que não controlamos nada mesmo. Estou com projeto de teatro aprovado para captação, mas ainda não da pra dizer quando poderemos voltar ao teatro com segurança, então sigo observando. Tenho uma peça online (Impro) que teve sua estreia agora na Virada Cultural de SP e pretendemos voltar com uma breve temporada em 2021 – Coronel Mostarda: Reloaded. Tenho feito locuções publicitária diretamente do home studio que tenho dentro do meu closet (rsrsrssrsr), o que parece ser uma tendência que veio pra ficar, não sei quando vamos e se vamos voltar a gravar nos studios profissionais e tomar café com a equipe após a gravação…Saudades também!!
Aproveitei esta pandemia para estudar e começar a escrever um roteiro de cinema, uma história que esta na minha cabeça a um tempo e tenho muita vontade de compartilhar com as pessoas. Vamos ver se agora vai!!!
Obrigada pelo convite da entrevista, foi muito bom parar pra responder as suas perguntas e poder re-olhar para o que faço, para o meu dia a dia e retomar a gratidão e a importância do meu trabalho.