por Sherif Awad

Leila Bass

Olá!!!

Obrigado pela entrevista, www.MeetingVenus.com

-Sou Leila Bass, atriz, locutora, bailarina

Não venho de uma família de artistas profissionais. Muito menos de atores e bailarinos. Mas meus pais sempre foram apreciadores, consumidores e incentivadores das artes em geral. Minha casa sempre tinha música e muitos livros, meu pai gostava de pintar quadros e minha mãe é fotógrafa e filósofa. Tinham muitos amigos artistas também: escritores, músicos, fotógrafos, pintores. Então, de certo modo, o pensamento e o fazer artístico sempre estiveram ali. Quando eu era ainda bem pequena, com 4 anos, me levaram para assistir a um espetáculo de dança em Marília, interior de São Paulo, cidade em que morávamos. E, segundo meus pais, eu fiquei encantada. Comecei então a frequentar aulas de balé e assim tudo começou. Também fazia aulas de piano e ginástica artística, mas o bichinho da dança foi o que me picou para sempre.

Até meus 25 anos, nem sonhava em me tornar atriz. Até então, seria só bailarina e ponto. O teatro, o cinema e a TV vieram bem depois, já na fase adulta. Então, minhas inspirações na infância e adolescência vinham da dança clássica: o Ballet Bolshoi e Ana Botafogo, que era uma referência mais concreta, por ser brasileira e tornar aquele sonho mais próximo: aos 11 anos, ganhei de minha mãe a biografia dela, que virou meu livro de cabeceira. Quando entrei na faculdade de Dança, ampliei meus horizontes para além do balé clássico, então passei a admirar companhias de dança contemporânea, como a Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, o Grupo Corpo e a Cisne Negro Cia. De Dança – nesta última, onde leciono no estúdio de formação há 16 anos.

Sempre valorizei muito o estudo constante. Meus pais sempre me incentivaram a seguir pela carreira que quisesse, mas que para isso seriam sempre necessários aprendizados e aperfeiçoamentos por toda a vida. Minha mãe dizia: “siga seu coração, alimente sua caminhada de conhecimento e terá sucesso”. Por isso, não acredito no caminho fácil. Acredito no estudo, na dedicação e na perseverança. Então, pra ser bailarina, fui fazer faculdade de Dança. Não que isso seja essencial pra dançar. O essencial é a busca do conhecimento e a aplicação disso na prática. Meu caminho foi através da faculdade, mas existem tantos outros. Depois, fui estudar também para ser atriz. Mesmo depois de formada, volta e meia me enfiava num curso pra aprender algo novo, pra não cair no piloto automático, pra me desafiar e experimentar outros jeitos de fazer. Mais recentemente, concluí também meu curso como locutora publicitária. E assim vamos nos ampliando. Quando estou trabalhando muito, fica difícil manter uma rotina de estudos. Mas cada trabalho é também um aprendizado. O importante é não se acomodar na zona de conforto, que por vezes é tão tentadora. Dizem que o artista vive de seu talento. Fecho com a máxima de Thomas Edison: “talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Ou seja, a inspiração precisa te encontrar estudando e trabalhando duro.

Leila Bass

Claro que penso sobre estrelato mundial. O artista quer que suas ideias e tudo o que ele tem a dizer com sua arte atinjam o maior número de pessoas possível: nosso propósito, em qualquer área artística, é a comunicação. Nem que seja de grão em grão: já fiz espetáculos com 1 pessoa na plateia, e tudo bem também. Mas se essa pessoa saiu tocada de alguma maneira, já fiz minha diferença no mundo. E se não rolar uma carreira lá fora, tá tudo certo também. Mas está nos meus planos, com certeza. Muitas referências artísticas nossas ainda são lá de fora. Então acho importante esse intercâmbio, de fazer nosso trabalho ser conhecido lá também.

-Sobre desafios relacionados a gênero, como mulher: Na dança, sinto que os homens ainda enfrentam muito mais dificuldades para serem respeitados socialmente como “homens que dançam”. O machismo, nesse caso, paira muito mais sobre os próprios homens. O balé ainda é visto como algo “feminino e delicado”, características comumente associadas às mulheres. Então, quando decidi que seguiria a dança profissionalmente, a reação das pessoas era e ainda é um misto de ignorância, curiosidade e admiração: “Mas dança é profissão? Existe faculdade de Dança? O que você aprende lá? Dá pra sobreviver disso?” Como atriz, sinto que a questão da aceitação de gênero é mais abrangente; mas no caso das mulheres, mesmo que já tenhamos avançado nessa questão, ainda sofremos com papéis estereotipados, na maioria dos casos.

– O Brasil já avançou muito nessa questão. Não vivi a época da ditadura, mas conheço os relatos de quem vivenciou essa época de repressão. Mesmo sendo um país relativamente jovem, estamos em um processo de aceitação de nossas origens e criação de uma identidade cultural. O grande problema do atual momento é o governo que nos representa há 2 anos: extremamente conservador, retrógrado e que não dá a devida importância ao ensino, acessibilidade e incentivo à cultura e aos trabalhadores desse setor. Infelizmente, no alto escalão, caminhamos para um modelo semelhante (senão pior, pois é reincidente) da ditadura dos anos 70. Em compensação, os artistas brasileiros estão mais do que calejados e acostumados a lidar com adversidades e privações. O famoso “jeitinho brasileiro” faz com que consigamos crescer e nos reinventar, mesmo e apesar das dificuldades. Somos conhecidos mundialmente por essa criatividade inerente. Falta o próprio povo brasileiro se dar conta dessa riqueza e aprender a consumir e valorizar isso. Mas se a arte não é consumida no berço da aprendizagem, dentro das escolas, fica difícil criar essa identificação. Mas estamos no caminho, daqui 2 anos temos as eleições e a oportunidade de reescrever essa trajetória.

-Meu processo correográfico, assim como todo meu processo artístico, é muito instintivo. Tento aflorar meus pensamentos e sentimentos mais íntimos e concretizá-los em ação, em movimento. Trabalho também a partir de ideias. Quando vou coreografar para crianças, por exemplo, parto da ideia inicial para a coreografia e vou buscando movimentos adequados às condições motoras dessa faixa etária para realizá-los. No caso da dança criativa, mais livre, um processo de criação que gosto muito de propor enquanto coreografa e de vivenciar como bailarina é a exploração de movimentos dos intérpretes, para chegar em um denominador comum para a coreografia.

-Para mim, cada trabalho é uma possibilidade de aprendizado e crescimento. Alguns vãos te trazer identificação e realização pessoal. Outros vão te desafiar mais, te tirar da zona de conforto. Cada oportunidade é enriquecedora por diferentes razões. Mas tem que fazer sentido pra mim de alguma maneira. Quando aceito um trabalho, de algum modo ele tem que dialogar comigo pra que eu consiga me entregar de corpo e alma para realizá-lo. Não sei fazer nada totalmente no piloto automático ou apenas para ganhar dinheiro. Já aceitei trabalhos em que o cachê era simbólico, mas me identifiquei com a proposta e isso já se tornou uma motivação para mim. É isso: a base para mim, é encontrar uma motivação, um porquê. Se essa pergunta tiver resposta, para mim já é o suficiente para ir adiante.

-Atualmente estou dando minhas aulas de balé e me dedicando à compilação e divulgação de meus trabalhos como atriz, locutora e bailarina realizados em 12 anos de profissão. Este ano comecei a atuar como apresentadora de filmes institucionais para uma multinacional e a previsão é de que este trabalho se estenda também para o ano que vem. Filmes publicitários gravados neste ano também estão para ir ao ar em 2021. Nesse ano de pandemia, montei um home studio para fazer meus trabalhos de locução de maneira remota e, nesse próximo ano, tenho intenção de expandir ainda mais esses serviços como locutora publicitária. O teatro online foi um campo que surgiu e se expandiu muito durante o ano de 2020 em que nos vimos impossibilitados de frequentar presencialmente os teatros. Neste ano, fiquei em cartaz com uma peça online e para o ano que vem já tem mais uma engatilhada. Um canal no YouTube com conteúdos que dialoguem com nossa atualidade também está para sair do papel. Vamos ver o que nos reserva 2021.

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